terça-feira, 15 de janeiro de 2008

DENUNCIA

Acreditamos que, ao não denunciar situações como as que relatamos em seguida, estamos a se r coniventes com elas, e a permitir que continuem a acontecer, sem qualquer consequência, no futuro.No dia 21 de Novembro (quarta-feira) à noite recebi um email de uma pessoa que me informou ter visto nessa madrugada, à porta da SPA Porto, uma cadela de porte pequeno com crias dentro de uma caixa de papel, à chuva e a tremer de frio .No dia seguinte de manhã, a Maria Queiroz, também voluntária do Animais de Rua, dirigiu-se à SPA para saber se tinham recolhido a cadela, e disponibilizou-se para ajudar na procura de um lar para ela e suas crias.O Sr. Carlos, responsável pela Secretaria da SPA, afirmou não saber se a cadela tinha sido recolhida, uma vez que não é feito registo dos animais que dão entrada nas instalações da SPA. Só na sexta-feira, após uma série de telefonemas, confirmou que a cadela e suas crias tinham sido recolhidas e estavam na clínica da SPA. Quando me dispus a ir lá para fotografar a cadela e crias para ajudar na procura de um lar para eles, disse-me para não ir porque estava muito ocupado,mas que poderia ir no dia seguinte, sábado. No sábado de manhã dirigi-me à Protectora cerca das 10h30 da manhã. Falei com o Sr. Carlos e disse-lhe que gostaria de fotografar a cadelinha e suas crias para ajudar na sua adopção. O Sr. Carlos respondeu que não seria possível fotografar a cadela porque, mais uma vez, estava muito ocupado . Expliquei-lhe que tinha vindo de longe e que só precisava que me indicassem onde estava a cadela e que iria eu mesma tirar fotografias, sem incomodar ninguém. Só quando lhe disse que se fosse necessário iria esperar até à hora de fecho da SPA é que, já cerca do 12h30, o Sr. Carlos chamou uma funcionária para me levar junto da cadela e seus filhotes. Pude apenas tirar 3 ou 4 fotografias rápidas porque fui imediatamente chamada para ir embora . Nesse mesmo dia foram colocados alguns anúncios de divulgação da família de cães e apareceu uma FAT (Família de Acolhimento Temporário) disposta a acolhê-los até que aparecessem lares definitivos para todos. Apareceram também várias pessoas interessadas em adoptar os filhotes.
Na segunda-feira de manhã, falei com a D. Ermelinda, Presidente da SPA, que tinha visto um dos anúncios da cadelinha. Primeiramente ficou extremamente revoltada por termos divulgado animais "dela" mas depois acabou por dizer que poderíamos ir à SPA falar com a veterinária de serviço para levar a cadelinha e suas crias.Dirigi-me de imediato à SPA, onde tive que esperar para ser atendida uma vez que o Sr. Carlos se encontrava em reunião com a D. Ermelinda. Passados alguns minutos, a D. Ermelinda passou por mim, e apresentei-me e disse estar ali para levar a cadela e seus filhotes, conforme combinado. A D. Ermelinda, depois de fingir não me conhecer e nunca ter falado comigo, piscou-me o olho (confesso que não percebi o significado de tão estranho código), e foi-se embora. Dirigi-me àSecretaria onde, inacreditavelmente, fui informada pelo Sr. Carlos de que, embora estivessem ainda na SPA, a cadela e suas crias já tinham sido todas adoptadas. Ora, uma vez que eu tinha saído da SPA no fim do horário de atendimento de sábado (já depois das 12h30), e estava lá ao início do horário de atendimento de 2ª, não seria de todo possível que toda a família canina tivesse sido adoptada, uma vez que não são entregues animais para adopção ao sábado à tarde nem ao domingo. Quando confrontado com essa conclusão lógica, o Sr. Carlos começou a desdizer-se e a gaguejar, dizendo que afinal a cadela e uma das crias tinham sido adoptados por uma pessoa, e que outra pessoa tinha adoptado as restantes duas crias;depois disse que tinham sido todos adoptados pela mesma pessoa, e finalmente que uma pessoa tinha adoptado todas as crias e outra pessoa tinha adoptado a mãe.Já à saída, vi um cão imóvel, deitado junto à porta da SPA, com sangue a escorrer pelo nariz e uma grande poça de sangue por baixo do seu corpo, sem se conseguir levantar nem mexer. Várias funcionárias da SPA passaram pelo animal sem o socorrer, pelo que chamei o Sr. Carlos para o ver, que disse que o cão devia pertencer a algum vizinho e fez menção de voltar para a Secretaria.Só quando levantei a voz perante a indiferença demonstrada pelo animal, que estava visivelmente em sofrimento, é que o Sr. Carlos se decidiu a chamar uma funcionária da clínica para o recolher.Resumindo, a SPA, por qualquer motivo, preferiu não aceitar a ajuda que oferecemos à cadela e crias em questão. Lamentamos que a A SPA não tivesse recusado com frontalidade a nossa ajuda, ao invés de iniciar um jogo de gato e rato connosco, fazendo-nos gastar tempo e dinheiro em telefonemas e viagens até à SPA, que teriam sido preciosos para atender a outros animais em risco.Entendemos que a SPA - que mantem os cerca de 1300 cães que tem a seu cargo sem o mínimo de dignidade e segurança, amontoados em boxs exíguas de onde nunca saem para passear ou exercitar-se, e que só muito raramente são objecto de qualquer divulgação para adopção - não está em condições de recusar ajuda na divulgação dos seus animais no sentido de lhes encontrar um lar onde possam viver uma existência mais feliz do que a que levam nas suas instalações.Para além disso, lamentamos que a SPA ignore casos de sofrimento animal como o aqui relatado, com a justificação de não ter espaço para acolher mais animais.Lamentamos que a SPA não tenha uma visão global do problema do sofrimento animal no nosso país e não perceba que a articulação entre associações e grupos de aj uda é a única forma de conseguir ajudar um maior número de animais em risco.

Lamentamos ainda que a cadela que pretendíamos ajudar vá, muito provavelmente, assim que os seus filhotes sejam adoptados, juntar-se até à morte à amálgama de cães que vivem existências miseráveis na SPA, quando tinha a oportunidade de aguardar pela sua vez de ser adoptada junto de uma família que lhe daria carinho, conforto e segurança.
Em suma, lamentamos que a SPA não cumpra melhor o seu papel de protecção dos animais e que, ainda que argumente de forma recorrente que sofre de falta de recursos, recuse de forma explícita a ajuda de pessoas e grupos credíveis, cujo único objectivo é o bem-estar dos animais.

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